quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Se os gatos têm sete vidas, devem conhecer a morte de perto

Félix Vallotton, Deux chats passent (Col. particular)

Erné morreu ontem.

Era um gato amarelado,
corroído pela doença quando
poucos seriam ainda
os passos dados no mundo.

Emagreceu, ficou sozinho.
Os olhos tristemente azuis,
inúteis como tudo afinal.

Olhos que ainda azuis
se imobilizaram para a morte
e já não puderam ver a mão
subitamente presenteada
com a rigidez de um cadáver.


A minha mão, e seus os olhos
azuis, desfalecidos, o pouco tempo
entre a morte e a morte.

Manuel de Freitas, Todos contentes e eu também (Campo das Letras, 2000)

     É a segunda vez que associo Manuel de Freitas e Félix Vallotton, mas juro que não é de propósito... deve ser por ambos gostarem de gatos...

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