quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Vou de férias...

    Dubout, Les Chats (Éd. Marabout, 1990)


... volto em Setembro.

E se a verdadeira liberdade, como em Caeiro, for não pensar?

Franz Marc, Kater auf gelbem Kissen (1912, Staatliche Galerie Moritzburg)

LE CHAT

 

Pour ne poser qu'un doigt dessus
Le chat est bien trop grosse bête.
Sa queue rejoint sa tête,
Il tourne dans ce cercle
Et se répond à la caresse.

Mais, la nuit l'homme voit ses yeux
dont la pâleur est le seul don.
Ils sont trop gros pour qu'il les cache
Et trop lourds pour le vent perdu du rêve.

Quand le chat danse
C'est pour isoler sa prison
Et quand il pense
C'est jusqu'aux murs de ses yeux.
´
Paul Eluard, Les animaux et leurs hommes, les hommes et leurs animaux

     Os gatos não dansam, mas talvez pensem...

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Gatos (e não ratos) de Biblioteca

LIBRARY CATS AROUND THE WORLD

     What is a library cat?
     It is a cat that calls a library its home. Most were homeless before being adopted by a library. Now Web-surfing cat lovers can find these felines that live in libraries by consulting the map. Visitors can click on any region of the world to view a list of the cats known to reside (or to have formerly resided) in libraries there. People can view photos of the cats, visit the cats' home pages on the Web, and even send them e-mail!
     The map contains information on nearly 600 library cats around the world. There are certainly more cats in the stacks. Iron Frog Productions would like your assistance in compiling the definitive list of library cats in the world. Visit the site and check out the ones from your area. If, 'purr' chance, you know of one that was missed, you can help update the list. In this way, you will play a part in creating a resource for people who would like to stop by on their travels to visit a library cat (as well as creating a memorial to past library cats).
http://www.moggies.co.uk/services/library_cats.html

Library Cats Map (www.ironfrog.com)

     Puss in Books takes a provoking and thought provoking look at cats that live in libraries throughout the United States. Most of these felines and the librarians who care for them belong to the Librarian Cat Society, an organisation who's mission is «to promote a establishment of a cat or cats in a library setting. As the director of the society says, «considering that these are 15 000 public libraries [in the United States], there seems to be much work to be done». Puss in Books goes behind the scenes - and between the stacks - to tell the story of this burgeoning movement.»

     Preciso de dizer que ADORAVA ver este documentário?

   

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

No mercy

     Deus fez o homem à sua imagem e semelhança, e fez o crítico à semelhança do gato.
     Ao crítico deu ele, como ao gato, a graça ondulosa e o assopro, o ronrom e a garra, a língua espinhosa e a câlinerie. Fê-lo nervoso e ágil, reflectido e preguiçoso; artista até ao requinte, sarcasta até à tortura, e para os amigos bom rapaz, desconfiado para os indiferentes, e terrível com agressores e adversários. Um pouco lambareiro talvez perante as coisas belas, e um quase-nada céptico perante as coisas consagradas; achando a quase todos os deuses pés de barro, ventre de jibóia a quase todos os homens, e a quase todos os tribunais, portas travessas. Amigo de fazer jongleries com a primeira bola de papel que alguém lhe atire, ou seja um poema, ou seja um tratado, ou seja um código. Paciente em aguardar, manso e apagado, com um ar de mistério, horas e horas, a surtida de um rato pelos interstícios de um tapume, e pelando-se, uma vez caçada a presa, por fazer da agonia dela uma distracção; ora enrolando-a como um cigarro, entre as patinhas de veludo; ora fingindo que lhe concede a liberdade, e atirando-a ao ar, recebendo-a entre os dentes, roçando-se por ela e moendo-a, até a deixar num picado ou num frangalho.
     Desde que o nosso tempo englobou os homens em três categorias de brutos, o burro, o cão e o gato – isto é, o animal de trabalho, o animal de ataque, e o animal de humor e fantasia – porque não escolheremos nós o travesti do último? É o que se quadra mais ao nosso tipo, e aquele que melhor nos livrará da escravidão do asno, e das dentadas famintas do cachorro.
     Razão por que nos acharás aqui, leitor, miando pouco, arranhando sempre, e não temendo nunca.

Fialho d'Almeida, Os Gatos I (Clássica Editora, 1992)


Pablo Picasso, Chat saisissant un oiseau (1939, Musée Picasso, Paris)

     No comments (quero preservar as minhas bolas de papel das jongleries felinas).

domingo, 8 de agosto de 2010

No Verão é melhor um poema triste

Otto Van Veen, L'Artiste et sa famille
(1584, Musée du Louvre)



GATO EM APARTAMENTO VAZIO

Morrer - isso não se faz ao gato.
Pois que há-de um gato fazer
num apartamento vazio.
Ir arranhando as paredes.
Roçar-se por entre os móveis.
Por aqui nada mudou
mas está mais que mudado.
As coisas estão no sítio,
mas os sítios outros são.
E nem se acende a luz pela noitinha.

Ouvem-se passos nas escadas,
todavia, não os tais.
A mão que põe no pratinho o peixe
também não é a que antes punha.

Algo aqui não acontece
às horas que acontecia.
Algo há aqui que não corre
como devia correr.
Alguém aqui esteve, esteve,
e agora teima em não estar.

Vasculhados todos os armários.
Percorridas todas as prateleiras.
Uma vez verificado o chão sob a alcatifa.
Contra todas as proibições até,
espalhados os papéis.
Que é que fica ainda por fazer.
Dormir e esperar.

Deixa-o só voltar,
deixa-o lá mostrar-se.
Há-de aprender
que com um gato não se brinca assim.
Há-de um bicho ir-se chegando para perto,
como quem não quer a coisa,
bem devagar,
muito sobre as patinhas ofendidas.
E ao princípio nada de saltar nem de miar.

Wislawa Szymborska, Paisagem com grão de areia
(Relógio d'Água, 1998, trad. de Júlio Sousa Gomes)

     Há poucos poemas para mim mais tristes do que este. No quadro de Van Veen, a extraordinária semelhança de todos os rostos, incluindo o do gato, é uma das melhores metáforas de família que conheço.

sábado, 7 de agosto de 2010

O gato que nunca existiu

POEMA DO GATO


Quem há-de abrir a porta ao gato
quando eu morrer?

Sempre que pode
foge para a rua,
cheira o passeio
e volta para trás,
mas ao defrontar-se com a porta fechada
(pobre do gato!)
mia com raiva
desesperada.

Deixo-o sofrer
que o sofrimento tem sua paga,
e ele bem sabe.


Quando abro a porta corre para mim
Como acorre a mulher aos braços do amante.
Pego-lhe ao colo e acaricio-o
num gesto lento,
vagarosamente,
do alto da cabeça até ao fim da cauda.
Ele olha-me e sorri, com os bigodes eróticos,
olhos semi-cerrados, em êxtase,
ronronando.

Repito a festa,
vagarosamente,
do alto da cabeça até ao fim da cauda.
Ele aperta as maxilas,
cerra os olhos,
abre as narinas,
e rosna,
rosna, deliquescente,
abraça-me
e adormece.

Eu não tenho gato, mas se o tivesse
quem lhe abriria a porta quando eu morresse?

António Gedeão, Novos poemas póstumos


Paula Rego, A filha do Polícia (1987, A casa das histórias)

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Se os gatos têm sete vidas, devem conhecer a morte de perto

Félix Vallotton, Deux chats passent (Col. particular)

Erné morreu ontem.

Era um gato amarelado,
corroído pela doença quando
poucos seriam ainda
os passos dados no mundo.

Emagreceu, ficou sozinho.
Os olhos tristemente azuis,
inúteis como tudo afinal.

Olhos que ainda azuis
se imobilizaram para a morte
e já não puderam ver a mão
subitamente presenteada
com a rigidez de um cadáver.


A minha mão, e seus os olhos
azuis, desfalecidos, o pouco tempo
entre a morte e a morte.

Manuel de Freitas, Todos contentes e eu também (Campo das Letras, 2000)

     É a segunda vez que associo Manuel de Freitas e Félix Vallotton, mas juro que não é de propósito... deve ser por ambos gostarem de gatos...

L'écume des jours - último capítulo

LXVIII
     - Vraiment, dit le chat, ça ne m'intéresse pas énormément.
     - Tu as tort, dit la souris. Je suis encore jeune et jusqu'au dernier moment, j'étais bien nourrie.
     - Mais je suis bien nourri aussi, dit le chat. Et je n'ai pas du tout envie de me suicider, alors tu vois pourquoi je trouve ça anormal.
     - C'est que tu ne l'as pas vu, dit la souris.
     - Qu'est-ce qu'il fait? demanda le chat.
     Il n'avait pas très envie de le savoir. Il faisait chaud et ses poils étaient tous bien élastiques.
     - Il est au bord de l'eau, dit la souris, il attend, et quand c'est l'heure, il va sur la planche et il s'arrête au milieu. Il regarde dans l'eau. Il voit quelque chose.
     - Il ne peut pas voir grand-chose, dit le chat. Un nénuphar, peut-être.
     - Oui, dit la souris, il attend qu'il remonte pour le tuer.
     - C'est idiot, dit le chat. Ça ne présente aucun interêt.
     - Quand l'heure est passée, continua la souris, il revient sur le bord et il regarde la photo.
     - Il ne mange jamais? demanda le chat.
     - Non, dit la souris, et il devient très faible, et je ne peux pas suporter ça. Un de ces jours, il va faire un faux pas en allant sur cette grande planche.
     - Qu'est-ce que ça peut te faire? demanda le chat. Il est malheureux, alors?
     - Il n'est pas malheureux, dit la souris, il a de la peine. C'est ça que je ne peux pas supporter. Et puis il va tomber dans l'eau, il se penche trop.
     - Alors, dit le chat, si c'est comme ça, je veux bien te rendre ce service, mais je ne sais pas pourquoi je dis «si c'est comme ça», parce que je ne comprends pas du tout.
     - Tu es bien bon, dit la souris.
     - Mets ta tête dans ma geule, dit le chat, et attends.
     - Ça peut durer longtemps? demanda la souris.
     - Le temps que quelqu'un me marche sur la queue, dit le chat; il me faut un réflexe rapide. Mais je la laisserai dépasser, n'aie pas peur.
     La souris écarta les mâchoires du chat et fourra sa tête entre les dents aiguës. Elle la retira presque aussitôt.
     - Dis donc, dit-elle, tu as mangé du requin, ce matin.
     - Écoute, dit le chat, si ça ne te plaît pas, tu peux t'en aller. Moi ce truc-là, ça m'assomme. Tu te débrouilleras toute seule.
     Il paraissait fâché.
     - Ne te vexe pas, dit la souris.
     Elle ferma ses petits yeux noirs et replaça sa tête en position. Le chat laissa reposer avec précaution ses canines acérées sur le cou mince, doux et gris. Les moustaches noires de la souris se mêlaient aux siennes. Il déroula sa queue touffue et la laissa traîner sur le trottoir.
     Il venait, en chantant, onze petites filles aveugles de l'orphelinat de Jules l'Apostolique.

Boris Vian, L'écume des jours (Librairie Générale Française, 2010)

     Adoro a frieza pragmática (que ele tenta uma ou outra vez, por delicadeza, disfarçar) deste gato que só aparece no capítulo final para contrastar com o excesso de sentimentos do rato e de Colin. «si c'est comme ça, je veux bien te rendre ce service, mais je ne sais pas pourquoi je dis «si c'est comme ça», parce que je ne comprends pas du tout.» :)

Paul Gauguin, D'où venons-nous Qui sommes-nous Où allons-nous
 (1897, Museum of Fine Arts, Boston)


 

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Wild Cat - em cada mulher há uma gata


Tim Burton, Batman Returns (1992) - Selina's transformation

     I don't know about you miss kitty, but I feel.....so much yummier..

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Outra versão do fat cat de Tolkien



     Encontrado algures na net... :s

domingo, 1 de agosto de 2010

Wild Cat - Em cada gato há um leão

CAT

The fat cat on the mat
may seem to dream
of nice mice that suffice
for him, or cream;
but he free, maybe,
walks in thought
unbowed, proud, where loud
roared and fought
his kin, lean and slim,
or deep in den
in the East feasted on beasts
and tender men.
The giant lion with iron
claw in paw,
and huge ruthless tooth
in gory jaw;
the pard dark-starred,
fleet upon feet,
that oft soft from aloft
leaps upon his meat
where woods loom in gloom —
far now they be,
fierce and free,
and tamed is he;
but fat cat on the mat
kept as a pet
he does not forget.

J. R. R. Tolkien, The Adventures of Tom Bobadil (1962)


Fernando Botero, Gat (Barcelona, 1987)
     Adoro a assonância quase infantil dos três últimos versos. E se o gat de Botero, junto ao qual os turistas (eu incluída!) tanto gostam de se fotografar, um dia se lembrasse do leão que dorme no seu interior? «Fat cat on the mat / kept as a pet / he does not forget»! ;)

Rigolo!



Hier, j'ai parlé avec une sorcière
On a discuté football et poésie, hier
Puis je lui ai dit que j'aimerai qu'elle m'apprenne
A kidnapper son mini-mini-mini-mini derrière
Alors elle m'a transformé en chat comme ça
Petit roux tigré les dents cassés, genre chat de gouttière
Depuis je me promène sur les toits
Je crie:
"C'est moi, c'est moi"
Vous ne me reconnaissez pas, non!
Même mes amis me crient:
"Ta gueule le chat, ta gueule le chat, ta gueule le chat"
Avec ses petits arbres en fleur,
J'ai eu envie de lui grimper dans les bras, voilà
-Tu aurais dû commencer par ça,
Tu aurais dû te méfier de moi,
Tu aurais dû arrêter de scruter la noisette
Celle qui me sert de bouche
Te voilà avec une gueule de chat,
A funambuler sur les toits
Avec la lune comme lampe de chevet,
Et personne pour te laisser rentrer chez toi.

It’s hard to be a cat in this fucking town !
And I can fly through the trees
And you can see my eyes through the night
Like lights of a car
And I look at my bed through the windows
I recognize the pillow and I dream about your
Little head sleeping on.

Dionysos, Les métamorphoses de Mister Chat (2006)
(versão original em Monsters in love, Barclay Records)

ta gueule, le chat :)