quarta-feira, 7 de julho de 2010

Tomem lá do O'Neill!

GATO

Que fazes por aqui, ó gato?
Que ambiguidade vens explorar?
Senhor de ti, avanças, cauto,
meio agastado e sempre a disfarçar
o que afinal não tens e eu te empresto,
ó gato, pesadelo lento e lesto,
fofo no pelo, frio no olhar!

De que obscuras forças és a morada?
Qual o crime de que foste testemunha?
Que deus te deu a repentina unha
que rubrica esta mão, aquela cara?
Gato, cúmplice de um medo
ainda sem palavras, sem enredos,
quem somos nós, teus donos ou teus servos?

Alexandre O'Neill, Poesias Completas 1951/1986 (INCM, 1990)
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Servos, claro... Que pergunta tola, Alexandre!
Nota 1 - A minha edição tem uma gralha, portanto não sei se o "obscuras forças" da segunda estrofe era assim ou no singular.
Nota 2 - Um post por dia, eis o meu objectivo para este Verão. Veremos por quanto tempo o consigo perseguir sem me distanciar demasiado. :)

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